Ovodoação e Epigenética

O desenvolvimento embrionário, em ciclos naturais e ciclos de reprodução assistida, é coordenado com base em diversos fatores, entre eles, as características genéticas dos progenitores.  Essas características englobam o conjunto de genes que formam a famosa sequência de DNA, sendo esses genes herdados a partir do óvulo e do espermatozoide.

Dentro da reprodução assistida, casais que optam por ciclos com doação de óvulos (ovodoação) geram seus embriões a partir da fertilização do óvulo de uma doadora com o espermatozoide, sendo o embrião gestado no útero da paciente receptora. Nesses casos, uma preocupação recorrente das pacientes receptoras é que a carga genética do filho será baseada em informações provenientes do óvulo da doadora. Entretanto, é importante salientar que o DNA não é o único responsável pelas características do ser humano, do ponto de vista genético, todas as pessoas apresentam um código genético quase idêntico. Isto significa que as diferenças que vemos ao nascimento entre uma criança e outra não dependem somente do conjunto de genes herdados dos gametas, mas da influência da expressão desse código genético.

A expressão gênica nesse processo, ou seja, a maneira como as características herdadas do espermatozoide e do ovulo serão expressas para moldar o embrião e o desenvolvimento da futura criança, é definida pelo que chamamos de epigenética.

A epigenética, são as modificações da expressão gênica que ocorrem sem alterar a sequência de DNA, ou seja, são alterações que funcionam como uma informação genética “extra” que ajudam ou inibem determinados genes. Essa informação, pode ser alterada por diversos fatores durante nossa vida, como prática de exercícios físicos, alimentação e hábitos de vida em geral, sendo que essa informação pode ser passada para as gerações futuras.

Dentro desse contexto, estudos tem comprovado que o ambiente intra-uterino durante a gestação pode promover essas alterações epigenéticas. Em estudo publicado na revista científica Development, foi identificado que através do endométrio, aquele tecido que fica na parte interna do útero onde o embrião se fixa e se desenvolve, exerce influência epigenética e modifica a expressão do código genético do futuro bebê, inclusive em casos de embriões gerados com óvulo de doadora e em casos de útero de substituição. Dessa forma, o útero onde o embrião se desenvolve ao longo de toda a gestação pode transmitir a expressão de genes da mulher que o carrega.

Com isso, as mães que foram receptoras também vão deixar sua “marca” genética no bebê que gestaram, influenciando assim o desenvolvimento da criança de diversas formas ao longo da sua vida, como por exemplo, influenciando o comportamento social, cognitivo e até mesmo de hábitos de vida.

Dessa forma, as mamães receptoras podem ficar tranquilas pois, apesar de parte da carga genética ser proveniente do óvulo doado, durante toda a gestação a sua própria carga genética e seu hábitos estarão influenciando o desenvolvimento fetal e embrionário do seu filho. Ainda, vale lembrar que o ambiente de crescimento e desenvolvimento da criança, assim como os vínculos familiares, que serão determinados pelos pais, terão um papel muito importante no desenvolvimento do filho, moldando suas características futuras.

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